A freguesia faz-se de todos quantos nela vivem, de todas as memórias e do passado que constrói a identidade local. A Idade Maior, expressão que identifica todos os habitantes que constituem a memória viva deste espaço é, por isso, um grupo ao qual dedicamos a nossa melhor atenção, remetemos o nosso maior respeito e com o qual queremos permanecer com a certeza de que é nas raízes da nossa história e na memória de tempos que não vivemos, que reside a expressão maior que nos diz quem somos.
Fomos ouvir os seniores da freguesia, saber como veem o evoluir dos tempos, de uma perspetiva local, perceber como olham para a sua própria geração, para as mudanças sociais a quem têm assistido e que mensagens nos deixam depois de conquistarem uma fase de vida que lhes permite olhar para trás e fazer o balanço de bem mais de meio século entre nós.
Quem são, há quanto tempo usufruem da freguesia, que histórias têm para nos contar?
Esta é a forma como a Idade Maior se apresenta em Queluz e Belas pelas palavras da Maria, do Amadeu, da Rosária, do Francisco e da Ermelinda, cinco seniores que aceitaram o desafio de partilhar com todos nós, a forma como chegaram ao século XXI, cheios de esperança e muitas experiências de vida.
Há 30 anos mudou-se para Belas e ficou na freguesia até hoje. Enquanto foi profissionalmente ativa, usufruía da freguesia apenas nos momentos de lazer e descanso mas, hoje, encontra no espaço que escolheu para viver, o conforto que outrora apenas se anunciava. Viu a freguesia crescer e a adaptar-se aos novos tempos. Ainda se lembra da falta de luz e das estradas que não eram alcatroadas e conserva, dessa altura, boas memórias e uma energia e humor borbulhante, que a idade não apagou.
Há 84 anos atrás chegava a Queluz e nem as vicissitudes da vida lhe retiraram a clareza, a energia e as inúmeras histórias que tem para contar. Tem um orgulho bairrista e defende o Bairro do Chinelo com alma e coração, alcançando com as palavras a memória de tempos de união e solidariedade que gostava de ver, hoje, mais vincados na sociedade. Acredita que a educação e a responsabilidade são base da vida mas a generosidade deveria ser uma constante, sem recuo, em qualquer momento.
Quase a chegar aos 40 anos de experiência vivida na freguesia, a professora Ermelinda presenteia-nos com um misto de doçura e alegria. Fala da vida com a inocência e um brilho nos olhos que nos lembra uma criança, coberta de serenidade e um espírito crítico sempre construtivo. Na freguesia ocupa-se, hoje, na Universidade Sénior, e diz que aí encontrou uma segunda casa onde continua a cumprir a missão de ensinar. Não tem pressa de chegar ao fim e encontra na partilha um dos maiores valores da vida.
Com 84 anos e meio alcançados, como diz enquanto sorri, traz-nos um olhar humano sobre a freguesia, na qual habita há cerca de 60 anos. Acredita que com a idade há uma importância maior de dar o exemplo aos mais novos e ensinar-lhes que a gentileza e a proximidade são o segredo para uma sociedade melhor e mais solidária. Faz dos passeios pelos jardins da freguesia uma atividade diária e é junto das pessoas e em diálogo que melhor se sente. Um verdadeiro mensageiro da boa disposição e tranquilidade.
Com 12 anos mudou-se para Queluz e os últimos 55 anos foram passados a olhar e a viver na freguesia. Guarda memória de tempos em que o esforço para se alcançar pequenas metas era enorme e diz que gostava de voltar aos momentos em que as pessoas se uniam para estarem, simplesmente, umas com as outras. Na freguesia casou, viu nascer as suas filhas, assistiu ao crescimento do espaço e às mudanças que vieram com ele. Aproveita melhor o tempo hoje, diz-se mais satisfeita e com o privilégio de poder usufruir da família e de todas as atividades que encontra no local que escolheu para viver.
A evolução do espaço deu lugar a novas formas de vida, a novos modos de viver a freguesia com todas as possibilidades que ela traz. Os desafios ultrapassam-se com a criação dos momentos de convívio, participados por todos, que criam laços que duram no tempo e constituem uma rede de apoio a que todos podem recorrer, enquanto cidadãos de uma mesma "casa" - Queluz e Belas. Recordam a solidariedade, a amizade e a união como memória viva de valores sob os quais alicerçaram a vida.
Como sentem o olhar dos mais novos? Separados por várias gerações que parecem, a certa altura, ter começado a falar diferentes linguagens, dizem sentir a necessidade de estreitar relações com as camadas mais jovens por acreditarem que a troca de experiências e a partilha de saberes são fundamentais para o crescimento social e cultural. Sentem que têm ainda muito para dar e que a distância (entre seniores e jovens) pode ser encurtada com o diálogo frequente e com o estreitar de ligações que podem ser alicerces de uma nova forma de olhar para o mundo.
A freguesia é feita de pessoas e dos projetos a que estas dão vida. Aqui pode consultar alguns dos projetos e ações dirigidas à Idade Maior que pretendem dignificar esta camada da população, trazê-la para o palco da vida social e validar a importância de criar espaço para uma comunicação intergeracional cada vez mais presente.